sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Eterno descanso



Amar é um sentimento único, arrebatador.
É depositar a Vida no coração de outrem
no desligar desse obstinado escudo protetor.
É o querer, na entrega, ser, sem desdém,
o suplemento vitamínico que fará do amor
a mais bela razão para admirar esse alguém.

Amar-te é qualquer coisa de indescritível.
É ficar mudo perante essa inquietante voz,
que me amouca a alma nesse tom irresistível.
É ficar cego perante a visão bailada do nós,
que me retira das palavras o sentido visível.

Amar-te-ei… não até que a morte
nos volte a doar um sossego manso,
mas até que esse azar nos dê a sorte
de um amar nesse eterno descanso.

Fotografia: Paula Gouveia

terça-feira, 13 de outubro de 2015

À tua espera


Estive aqui minutos sem fim, à tua espera,
e de ti apenas um fugaz e tímido clamor.
Esperei tanto, que quem espera desespera,
que me prostrei na demora do teu calor.

E a esperança findou, como se fosse de cera,
lentamente extinta pelo teu cintilo desertor.
Foi coagida a resignar a um óbvio que contera
demasiada delonga pelo fulgor do teu amor.

Na tua ausência fundi-me com o horizonte
e,  em silêncio, perdoei a tua inóspita evasão
enquanto ainda te adivinho em meu coração.

De luto, por nós, construí uma utópica ponte,
que me permite, pelas palavras, ser o farol
dessa luz que tantos ilumina, abençoado sol.

Fotografia: Paula Gouveia

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

E agora!?



E agora! Só há um caminho a seguir.
Em frente. De peito firme e erguido.
Nesse corpo o sangue continuará a fluir
e verás que essa dor é amor obstruído.

Ampara-te no vigor e beleza desse sorrir,
e liberta a corrente desse mar comedido.
E agora? Agora… para além desse existir,
é a altura de viver o presente oferecido.

Escuta o coração e enfrenta o Adamastor.
Não tenhas medo de dar uma oportunidade
ao que resta dessa singela simplicidade.

E tenta… encontrar a famigerada felicidade,
sabendo que em ti subsiste, de verdade,
um Ser Humano que merece delibar o Amor.

Fotografia: Paula Gouveia

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Síndrome de Estocolmo


Sofres de uma síndrome que te bloqueou a visão.
Uma cegueira psicológica que te engana a dor.
Veio de Estocolmo num assalto de intimidação,
e chegou até ti, oculta, na cruz do teu sequestrador.

Com o tempo, subjugou-te pelo azorrague da retaliação,
e crente, por apreensão, passaste a presa do agressor.
Hoje! apesar de saberes que é possível a libertação,
já não te consegues desligar emocionalmente do raptor.

Podes não ter consciência da gravidade da situação,
mas um dia sentirás a violência desse despudor,
quando olhares para trás e a sentires como agressão.

Entretanto, fabricas na mente indultos a esse impostor
que se refugia na liberdade mas asfixia-te na obrigação.
E definhas… por pavor… trucidando o autêntico amor.

Fotografia: Paula Gouveia