quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Um homem só


Um homem só.
Sentado no chão.
Aspirava o seu cigarro,
enquanto pedia perdão,
ao seu corpo que imundo de catarro,
insistia naquele bafo bizarro.
A parede era o seu amparo,
naquela luta, desigual, que travava com o vicio.
Pensar na vida era um momento raro,
e nunca quis perder tempo com esse exercício,
olhando para essa preocupação como um desperdício.

Um homem que insistia em ficar só,
perdido na sua própria insanidade.
Um homem sem remorsos e sem dó,
pelo definhar de uma sociedade,
onde o Eu prevalece com total impunidade.

Um homem só.
Sem vontade nem alegria.
Qualidades esquecidas e deixadas para trás.
Um homem, que tal como a Maria,
existindo, acaba por ouvir, sem falar ser capaz,
os pensamentos do Júlio Machado Vaz.
Reminiscências, lidas, onde deseja mergulhar,
procurando no seu silêncio a salvação,
para a tormenta que, até si, gosta de encaminhar.
Ruídos sem voz que trata sem consideração,
ao escutá-los nos avisos do coração.

Este homem só,
é a face do desespero envergonhado,
reduzido a cinzas de um pó,
que de valores, foi abandonado,
sem saber se, algum dia, de orgulho será restaurado.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sorriso de menina


O seu sorriso, sincero, fascina,
através de uma luz arrebatadora.
A sua simplicidade a todos ilumina,
quando nos revela a sua educação doutrora.

O seu encanto de mulher na pele de menina,
eleva-se na alegria de uma voz encantadora.
E o prazer que demonstra em ser genuína,
potenciam as suas qualidades de comunicadora.

E neste soneto, todo o respeito que ponho,
e sem querer da sua “fama” me aproveitar,
será porque “gosto disto”, e das palavras registar.

E se o homem é do tamanho do seu sonho,
nada mais belo do que querer acreditar,
que nascemos para poder partilhar.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A probabilidade da ambição


Sais de mim, na esperança de uma ilusão,
que, na realidade, vai ser difícil de acontecer.
Certeza suportada na probabilidade de uma ambição,
de que um dia voltes a mim com prazer.

E acredita no que te digo, tu mexes com as emoções,
de todos aqueles, que tal como eu, querem acreditar.
De gente que te julga ou julgou, com falsas pretensões,
mas que no fundo, sempre desejou pelo dia que os pudesses tocar.

Semana após semana, sinto o teu largar de mão,
num gesto que me faz empobrecer.
Situação camuflada por uma iludida pretensão,
de alcançar a felicidade através do verbo ter.

E sei, que por ti, enfrentarei várias discussões,
mas cá estarei, sempre pronto para as enfrentar.
Por isso, caro dinheiro do euromilhões.
Hoje é o dia, vem até mim, que a minha conta está a precisar.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sinais de pontuação


Quem me tira este aperto,
de ver no céu o deserto.
Esta fome de querer o que já tenho,
sem me saciar no meu próprio desenho.
Ponto de interrogação onde me entretenho.
Quem me tira esta visão,
que me contrai a respiração.
Esta ansiedade de em ti me perder,
sedento de uma simples gota de prazer.
Reticências de um corpo que insiste em arder.

Quem me alerta para o perigo,
de este amor se tornar um castigo.
Masmorra de um sentir que condiciona.
Uma alma que na fragilidade se aprisiona!
Ponto de exclamação que me impressiona.
Quem me agarra sem eu pedir,
se me vir a escorregar, antes de cair.
Apoio que precisarei na hora de me levantar.
Se algum dia o teu entusiasmo ousar pensar,
numa virgula, antes desta estória acabar.

E por te sentir em cada respirar.
Penso em ti, sentindo-te em segredo.
E por seres quem me faz desejar.
Viajo em ti, cheio de medo.

Quem me ajuda a lidar com a dualidade,
de te viver na loucura e na saudade.
E me equilibre os dois pratos desta balança,
que vacila nesta constante e interior cobrança,
cada vez que me surges na lembrança.
Quem comigo estiver na altura do fim,
verá que te amei como me amo a mim.
Descobrirá o significado da paixão,
nas lágrimas que escorrerão em vão,
na pele destes sinais de pontuação.

E por te sentir em cada respirar.
Penso em ti, sentindo-te em segredo.
E por seres quem me faz desejar.
Viajo em ti, sem pudor e sem medo.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ciúmes dos afetos


Ontem, senti ciúmes, confesso.
Vi-te feliz nos ombros e braços de um outro ser.
Bem sei que posso estar a pecar por excesso,
aportado num defeito físico que me impede de, assim, te ter.

Quem mais nos atrai, mais nos isola. Processo
que, em mim, vive escondido por detrás do medo de te perder.
Camuflado num vácuo que me corta o acesso,
à entrega de um amor, eterno, que ainda não aprendi a oferecer.

Afetos. Profundos. Não são mais que emoções,
que não conseguimos exprimir, verbalizando,
mas que nos permitem dar sentido às nossas solitárias questões.

E estes, que sinto por ti, e que cozinho em lume brando,
são, mais facilmente, expostos em poemas escritos na língua de Camões,
do que em palavras doces, ou nas caricias que, timidamente, te vou dando.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Escrevo-te, expondo-me.


Voltei, querida!
Nem sabes como tive saudades tuas.
De te olhar no vazio da minha ansiedade.
Porém, tive de tirar férias desta vida,
que me andava a partir a alegria em duas
metades, de um todo que precisava da insularidade.

A verdade, é que não me importava de lá voltar.
Sonhando, à sombra, sentado no meu banco.
Sem relógio no pulso, para não sentir o tempo passar,
e sentir aqueles banhos de brisa, que apanhavam o sol de flanco.

Voltei, querida!
Não imaginas como me custou viver-te num filme mudo.
Falar para ti e ouvir-te em mim, sem escutar um único som.
Sentir-te a chamar-me a atenção, com essa voz que valida,
e que acalma emoções que guardo desde miúdo,
e que nunca se perde no espaço nem se perde no tom.

Confesso. Custou querer-te, ter-te por perto e não te poder tocar.
No fundo viver um desejo que se perde num solavanco.
Mas hoje, volto a nós, e sem medo de a ti me entregar,
escrevo-te, expondo-me, minha querida folha em branco.