quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Amárgoa


"Amar magoa" suspirou-me a água
num lavar de face através da alma,
num lavar de face repleto de calma.
No espelho lacrimejava-se a mágoa
de um coração vencido pela calma,
de um coração desolado na alma.

Nada como a perceção da realidade
refletida numa dual máscara de dor.
Da luz discorriam, na sua velocidade,
sentires doridos por aquela verdade
que cega e imola a essência do amor.

Os olhos, tal como o tempo, não iludem.
Basta ouvi-los no silêncio da reflexão.
Os meus ferem-se quando se seduzem
nas horas que lhes vestem a imaginação.

Os teus, anseiam pelo que não mente
num amanhã enraizado de quietude
perante esta vida que segue em frente.

Nos nossos senti a vontade de crescer
na convicção do passado se esquecer.


Do vapor da Vida, chorei-te no espelho: Amárgoa!

quinta-feira, 29 de junho de 2017

És o desassossego que me sossega


És o desassossego que me sossega.
A quietude que me perturba a Vida.
És o coração que minha alma carrega
pelos atalhos de uma dor sem saída.

És mais do que aquela que se entrega
à fábula de uma esperança incontida.
És o sossego que me desassossega
no vão beijo do abraço da despedida.

Todas as noites me despeço em saudade
enquanto te perlustro a desaparecer
no voo desse coração cheio de bondade.

Deixo-te partir, de afeição, esperançada
naquele abraço que um dia há de vir a ser
o porto de abrigo dessa alma abençoada.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Na plenitude dos seus oitenta

Na plenitude dos seus oitenta
é espantoso ver o brilho do seu ser.
Ver a beleza da luz que a sustenta
e que irradia magia na arte do viver.

Se na Vida só vence quem tenta.
Só a desfruta quem a aprende a ler.
E você é a mestre da sábia sebenta
que tudo nos diz sem nada escrever.

Obrigado por tamanha sabedoria
transmitida no respeito de um sorrir
embrulhado no recanto da alegria.

Parabéns a si que, sem nunca inferir,
me ensinou a refletir no fim do dia
por um amanhã que se dê a descobrir.

Nuno Freitas - "Na plenitude dos seus oitenta"
(Uma singela Homenagem à minha sogra)


terça-feira, 21 de março de 2017

Não sei o que te dizer


Quero escrever…
mas não sei o que dizer.
Sinto a Alma despida.
Golpeada.  Despedaçada
pela lâmina do destino.

Quero escrever-te…
sem nada querer dizer-te.
Retalhado pelas deslisuras da Vida.
Amargurada. Encapotada
por meu sorriso de menino.

Falo-te tanto de Amor.
De Saudade.
De Dor.
De Felicidade.
Mas Amor…
… Amor é meramente
uma palavra que abraça
quando a doença da mente
nos invade o coração
e de pura ilusão
o trespassa.

A Saudade?
Como a posso matar
sem ser acusado de homicídio?
É pura Dor de Felicidade,
senti-la sem a poder abraçar,
em poemas que cometem suicídio.

Já há algum tempo que não te sentia.
Julguei que precisássemos de paz.
Mas agora que te escrevo e olho para trás,
sinto que era do julgar que me escondia.

Por agora, a tua inspiração voltou,
mesmo que num breve dedilhar.
Seduzindo-me por um piscar de olhar
que aparentemente me encantou.

Tenho saudades tuas. Confesso!
e não to declaro por mera cortesia.
Mas sim, porque mereço
dar descanso a este sentir opresso,
e voltar a ser beijado por ti, amada Poesia.

Não sei o que te dizer…
mas queria-te escrever.


sexta-feira, 3 de março de 2017

Desabafo ao meu Eu cinquentenário




Sinto-me Triste, sabes. Verdadeiramente Triste com algumas das Amizades que fomos cativando ao longo da nossa Vida. São poucos os que nos conhecem verdadeiramente. Quiçá uma mão cheia, aqui em 2017, e mesmo assim estarei a abusar das falanges. Não sei é se quero alargar aos dedos da outra mão e deixar-te mais qualquer coisa para o futuro. Estou num transe analítico 😉  Mas mesmo assim, saberás que fui um Ser Humano que se Deu por inteiro aos que fiz por considerar meus/nossos Amigos (até lá outro Nós fará a triagem).
Abri-lhes a porta de casa, mas acima de tudo a janela do nosso coração. Sim, é verdade, não sei quem serás Tu, mas eu sou um Ser Sentimental. Um individuo genuinamente Bom e que percorre um longo, e espinhoso, caminho na tentativa de ir vivendo sem “julgar” o comportamento e as atitudes dos outros. Gosto de escutar sempre as duas faces da moeda, se é que me entendes. Olha, espero que continues a saber o que isto é, e que continues a entender que se não lhes vestirmos as dores interiores não os podemos criticar. Apesar de aqui ou ali, ainda hoje escorregar e dar por mim a fazê-lo. Já viste, sou Humano. Que chatice. Se bem que nos dias que correm, é deveras uma “incapacidade”. Vá, não te apoquentes, isto é no passado. Tu serás melhor. Muito melhor. Acredito em ti 😉

Não sei se te lembrarás mas, ao longo destes anos, não foram raros os casos em que te “bateram à porta”, assim do nada … Pessoas amigas, Seres Humanos (no fundo, uma raça em extinção), destroçados, desiludidos com o rumo da sua Vida… em que lhes bastava apenas um ombro que os escutasse e não um ouvido que lhes suportasse as lágrimas. Fui-o. Sempre. Mesmo que isso pudesse afetar a minha tranquilidade mental ou o tempo em família. Orgulho-me de tê-lo sido e quiçá de ainda o tentar ser, até me entregar-te. E mesmo que após a retoma das suas vidas, eles facilmente se tenham “esquecido” de quem lhes deu a mão, tu sabê-lo-ás que não o fiz e não o faço por reconhecimento ou consideração, mas porque assim nos dita o coração. Eu sei. Eu sei. Coloquei-me a jeito. E desculpa-me por te entregar tal fardo. Mas, escuta, deixo-te aqui um recado de uma das Pessoas mais importantes da nossa Vida (até ver): Tens de te proteger mais Nuno eheheh (este esgar foi meu, não do recado). Enfim. Cada um nasce para o que nasce 😉

Ainda assim tentei dar sempre a cara pelas minhas ações. Se tentei. E acredita, que quando não conseguiste fazê-lo foi certamente por teres acreditado que seria o melhor para todas as partes. Tu és um Homem Bom, não sei se já te disse. Claro que devo ter dito. Estes resquícios da nossa gaguez, assola-me de quando em vez. Porra, lá estou eu a rimar eheh Está-te no sangue :D Voltando às tuas ações passadas, assumo-as com a frontalidade que os que te conhecem nos reconhecem. Detesto o diz que disse, o mexerico bacoco, o ouvi dizer que em que se acrescenta sempre algo incorreto a mais (depende aqui sempre da mente retorquida que o conta), o interpretar jocoso de “brincadeiras” para tentar “afetar” o caráter de outro, o falar sobre sem perguntar se existe algum fundo de verdade, no fundo… um maldizer mascarado de honra e inimputabilidade moral.
Todos nós. Todos, sem exceção. Cometemos ou cometeremos ações menos corretas na Vida. E perdoem-te a bazófia poética, apesar de já estares um cota, mas eu só as perdoo se Sentir que foram “enubladas” pelo Amor. Sim, porque quem Ama, já Amou ou acredita neste Sentir… sabe que ele nos enleva a outros patamares da nossa essência. A algo que nem o nosso próprio consciente o tem presente. E por isso é que ele comanda o Mundo. Tu sempre pensaste assim. Eu sou assim. E sempre serás. Por mais que alguns, ao longo desta nossa passagem, se julguem capazes de te “destruir” a essência através de insinuações camufladas de psíquicas interpretações.
Nos últimos anos da minha Vida, o trintão agiu de forma incorreta para alguns (que certamente ainda hoje te cruzarás com), mas pior que tudo para com os nossos. Porém, ele confessou-me que o fez de forma consciente e levado através das ondas dos pilares que te suportam: O Dar. O Ser. O Amar. Chorou-me que foram lições extraordinárias de Vida, mas também momentos de uma solidão imensa, destrutiva. Obviamente perdoei o miúdo. Não me perdoo é a mim. Mas isso são outros quinhentos, como diria o nosso Avô Manel. Contudo, e para que nunca nos esqueças, esses também foram os obstáculos que te mostraram uma resiliência que eu próprio desconhecia. O nosso rapaz foi um lutador, agora entendo-o. Ousou ser maior, teve coragem e deu-nos a possibilidade de amadurecer, apesar de tanta dor distribuída. Sabes! não me arrependo de nada. Sou o que És por tudo aquilo que ele conseguiu Ser. E quiçá, foram todos os poemas que nos foi dando a conhecer através dessa voz que ainda em ti deve habitar (assim o espero) que o ajudaram na entrega do testemunho desta maratona interior. Não sei. Não mo disse. Mas desconfio. Pois aqui estou, qual General “Sem medo” dos julgares que daqui irão surgir, sem a mínima vontade de “Obviamente, me demitir” de escrever. Por ele. Por ti. Por nós.
De mim, pelo que vejo, e apesar de tantas as ilações que existirão sobre o que fui escrevendo, nada se altera. Simplesmente, escrevo. Dando alma à alma que por aqui se revela amparado pelo Amor dos Teus. E diz lá… como é bom ser-se Amado.
Mas a verdade é que não foste imaculado. E ainda bem. Porque se o fosse, demoraria muito mais a crescer e a alcançar a tal maturidade que sei que tens. De qualquer forma, e como é bom andar de cabeça erguida, sendo que aqui ou ali, a poderás deslizar um pouco, não por vergonha mas por respeito àqueles que “desconsiderei”, fica sabendo que tudo fiz para que ela ficasse por aqui. Ou não. Já nada sei.

E assim sendo, Hoje, quiçá pelo karma ou pelos efeitos secundários da loucura (talvez agora percebas o título que dei ao teu livro), vivo constantemente numa dualidade interior tremenda, que me tira o chão, que me perturba, que me encosta às cordas do meu sofá (do meu, porque espero que daqui por dez anos já o tenhas trocado), e no fim dos dias me tem tirado algum do sono: Volto ou não a Confiar nas Pessoas? Volto ou não a dar de Ti?

São questões que só o tempo me levará a decifrar. Considero, apesar de tudo, um privilégio os Bons e Verdadeiros Amigos que consegui Amar e alcançar neste teu percurso. São realmente Pessoas Boas, Genuínas e em quem se pode confiar. Até ver, dir-me-ias tu 😉😃

De qualquer forma, meu velho, sinto-me um miúdo na flor destes 40, apesar de saturados… não de gordura, mas de hérnias incapacitantes, mas por outro lado… pronto para te entregar o bastão de uma saúde melhor que o nosso trintão me entregou. Perdoa o puto. Tinha a mania que era imortal por ter acabado de ser Pai. As crianças dão-nos isso, como bem sabes: Esperança. Crença. Força. Imortalidade. E como diria o nosso Amigo de longa data: São o melhor do Mundo. Se são. E olha que nós temos uns Excelentes Filhos. Bela Família nos calhou em sina. Cuida-os.

Sinto-me Triste, sabes. Verdadeiramente Triste. Ou como diria o “nosso” Pessoa através do “seu” Álvaro de Campos:

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

E porque estou mesmo cansado gostava de terminar esta carta pedindo-te, por favor, para não te desviares do nosso trilho… que é o de Viver a Vida, acreditando no Amor.
Se porventura o tiveres feito aconselho-te a voltares atrás, até me encontrares, por mais que o tempo me tenha estilhaçado todo. Volta. Por Ti. Porque Eu… Acredito em Mim.

Obrigado companheiro.

Live Life. Love Life & Smile 😃