segunda-feira, 11 de abril de 2016

A sedutora luz da bonança


Sinto que é no silêncio que me lês.
Na penumbra dessa dor que se cala.
Escuto de ti gritos zelosos de surdez,
disfarçados nesse silêncio que fala.

Mas compreendo-te a falta da nitidez
que te ciosa a alma e que tanto te rala.
Não percebendo tu que essa insensatez
te consome nesse ciúme que te embala.

Valoriza quem te acompanha na viagem,
e liberta-te dessa detenção da lembrança.
Acorda! Sai dessa dispneizante fuselagem,

e volta a respirar a sedutora luz da bonança.
Ama! Respeita quem não vive à tua imagem,
e estima, olhando para a vida com esperança.

Fotografia - Paula Silveira Costa

terça-feira, 5 de abril de 2016

Sentes o tempo na ferrugem das vigas


Sentes o tempo na ferrugem das vigas,
enquanto o olhas de soslaio, pensativa.
Focas-te na lente que regula as intrigas,
e diminuis a distância da expectativa.

Não, és de todo, como as outras raparigas.
Transformas-te perante a alma da objectiva.
Tens personalidade, não vais em cantigas,
e seduzes a vida sem quaisquer tiques de diva.

O tempo! esse... alicerçou na nossa memória,
momentos, que tal como este que descrevo,
serão a base de toda esta intemporal história.

Acredita. O ontem será um dia de relevo,
se fizeres do hoje a tua, breve, dedicatória
ao amanhã que desse olhar tanto devo.

Fotografia - Paula Silveira Costa (Página My Eyes)

Desdobra a mente



Ambulo, constantemente, de luvas postas
para não deixar quaisquer impressões digitais.
Nelas… apreendo o peso da Vida às costas
suportando, em dor, nossas almas surreais.

Resisto, na procura das corretas respostas,
forçando a palma à desconfiança dos demais.
Das suas trepidezes faço-as de supostas,
e foco-me nas nossas memórias intemporais.

As dores, minhas, bloquearam-me o escrever.
Mas descobri que quem depende não sente
a exaltação deste sentir único que é o Viver.

E sustento-nos, nesta imagem que não mente,
aguardando que o tempo te mostre que o Ser
é aquele que perdoa e desdobra a mente.

Fotografia: Paula Silveira Costa