quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Reaprender a Viver.

 
Não me apetece voltar a escrever,
porque não sei mais o que dizer.
A Vida invade-nos de ausência
numa viral e confusa afluência
de presenças trajadas de surdez.
Para quê esse arredado pronunciar
“Não precisas de te preocupar.”
quando é visível a tua frágil nudez.
Essa força de fraca e falsa aparência
irá minar-te a alma sem clemência
numa agonia temperada de acidez.
Entende que a Amizade é poder Estar,
tal como o Amor é saber Respeitar,
e não apenas um símbolo de honradez.

Sinto na garganta vários tipos de nós
que também eu não saberei identificar.
Mas aquele que nos silencia a voz,
aprenderemos, juntos, a desenlaçar.

Entendo, agora, porque não queria escrever.
Afinal sou Eu que preciso de… Reaprender a Viver.


Fotografia: Paula Silveira Costa

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Caminhando para o infinito.


Gosto demasiado de Ti
para ficar assim… aqui.
Gosto demasiado da Vida
para deixar a alma… perdida.
Prefiro partir
caminhando para o infinito.
Do que ficar
preso a este existir proscrito.
De preto
dou sentido ao luto do sentir.
Do veto
darei sentido ao caminhar.
Admiro o céu circunscrito
desconhecendo a saída.
Mas respiro no seu óbito
este amar de índole fratricida.
Prefiro partir
deste amor que não antevi.
Do que ficar
nesta dor delineada a bisturi.

Entretanto…
talvez te encontre mais à frente.
O caminho é extenso.
Enquanto…
das memórias farei no presente
o alicerce deste amor imenso.

Por agora…
vou caminhando para o infinito.


Fotografia: Paula Silveira Costa

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Mar adentro


Hoje entendo porque te custava o adeus.
Eu partia, de mão dada, com a esperança.
Tu ias embora no adiar de uma certeza.
Certeza que eu sentia nos silêncios meus,
e que tanta dúvida trouxe à perseverança
de acreditar num amor cheio de fraqueza.


Hoje entendo a tua falta de voz existencial.
Eu cresci a viver nesta incompleta liberdade.
Tu foste crescendo nessa hermética alegria.
Alegria que tu escutas num tom superficial,
enquanto caminhas à procura da verdade
que te demonstre a essência de tal voz vazia.

Hoje entendo que esse amor foi a respiração.
Eu parti na angústia de confiar na sua brisa.
Tu ficaste na melancolia de a escutar no mar.
Mar adentro, nos raios de sol, deixei o coração,
para que na memória desta alma poetisa,
tu oiças a gratidão no esquecimento de me amar.

Fotografia: Paula Gouveia

"Mar adentro. Mar adentro, e na leveza do fundo, onde os sonhos se tornam realidade, juntam-se duas vontades para cumprir um desejo. O teu olhar e o meu como um eco, repetindo sem palavras: mais adentro, mais adentro, até ao mais além de tudo pelo sangue e pelos ossos. Mas acordo sempre, e sempre desejo estar morto, para continuar com a minha boca enredada no teu cabelo." - Alejandro Amenábar y Mateo Gil

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Parece que foi ontem


Parece que foi ontem que partiste,
pois a dor da tua perda permanece.
A vida avança… ficou mais triste…
mas a tua presença não se desvanece.

Acredito que a dor deixada não anteviste,
porque ouviste no desespero a tua prece.
Aqui ou aí, que vivas nessa paz que refletiste,
mais livre, apesar dessa presença que carece.

O tempo passa, mas a tua memória ficou.
Podia ser uma cunhada “La Paliciana”.
Porém, o que a tua partida em mim deixou

foi uma reflexão profunda nesta alma mediana.
Foste o mais chegado a mim que um dia me deixou,
levando contigo um pouco do teu Amigo Chalana.

Fotografia: Paula Silveira Costa

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Almo


Tu envergonhas-me com a tua sapiência.
De cultura sinto-me pobre quando te leio.
Apreciar tal escrita enriquece a inteligência,
daqueles que como eu poesiam o anseio.


E se em Tróia entrou um cavalo sem freio,
de ti o dom da palavra sai por apetência.
Do mar vem-te um alento que não é alheio
ao sol que me inspira sentires em cadência.

Ando cansado! sem vontade de me expressar,
mas na penumbra não te perco um salmo,
perdendo sim a capacidade de te adjetivar.

Passo, em reflexão, por um período mais calmo,
pela perca de perdas que me "obrigaram" a parar,
na garantia que não deixarei de ser um (teu) almo.

"Almo" - Nuno Freitas.

Resposta ao desafio poético do meu amigo Paulo Coutinho.

Volta …!
Já fazes falta, na minha leitura,
das tuas rimas, tenho saudade,
na ampliação da minha cultura,
sê solidário, e faz-me a vontade.


Trovas sonantes, dadivosa poesia,
palavras sóbrias na ponta da pena.
Não partilhares essa arte, é heresia,
é imaginar Tróia, sem a sua Helena.

Deixa brotar desse espírito cansado,
a verve em catadupa, o ledor regracia,
não deixes na bruma, o nobre passado,
tira-nos, desta triste e vil, mediocracia.

Versos banais, qualquer um conquista,
de poetas, está o globo bastante pejado,
diverge um génio de um instrumentista,
como um banal vate, de um sábio cansado.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Até sempre Vidigal...


Porquê mano? Porque nos quiseste, tão cedo, deixar?
E agora, o que vai ser disto sem essa gargalhada?
Tento escrever-te, mas não consigo parar de chorar,
nesta página que, de pranto, se desfaz em nada.

Porquê puto? Tu... que tinhas sempre tanto para dar
a quem te vivia de forma genuína e descomplexada!
Gaguejo, lembranças, nesta altura de te homenagear,
Agradecendo-te a Nossa Amizade pela Vida blindada.

Deixas Saudades a quem por aqui continua a passear,
mas deixas muito mais no legado do teu sangue arterial.
Deixas valores de honra naqueles que desejaste tocar

e que certamente serão relembrados nesta hora final.
E nesta pobreza interior que, em muitos, acabas de deixar,
Abraço-te numa lágrima que te grita: Até sempre Vidigal...

...

"Para estares em nós nunca foi preciso estares connosco,
pois sempre estivemos no coração de cada um.
Até sempre Vidigal.
Continua a sorrir por nós…"

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Eterno descanso



Amar é um sentimento único, arrebatador.
É depositar a Vida no coração de outrem
no desligar desse obstinado escudo protetor.
É o querer, na entrega, ser, sem desdém,
o suplemento vitamínico que fará do amor
a mais bela razão para admirar esse alguém.

Amar-te é qualquer coisa de indescritível.
É ficar mudo perante essa inquietante voz,
que me amouca a alma nesse tom irresistível.
É ficar cego perante a visão bailada do nós,
que me retira das palavras o sentido visível.

Amar-te-ei… não até que a morte
nos volte a doar um sossego manso,
mas até que esse azar nos dê a sorte
de um amar nesse eterno descanso.

Fotografia: Paula Gouveia

terça-feira, 13 de outubro de 2015

À tua espera


Estive aqui minutos sem fim, à tua espera,
e de ti apenas um fugaz e tímido clamor.
Esperei tanto, que quem espera desespera,
que me prostrei na demora do teu calor.

E a esperança findou, como se fosse de cera,
lentamente extinta pelo teu cintilo desertor.
Foi coagida a resignar a um óbvio que contera
demasiada delonga pelo fulgor do teu amor.

Na tua ausência fundi-me com o horizonte
e,  em silêncio, perdoei a tua inóspita evasão
enquanto ainda te adivinho em meu coração.

De luto, por nós, construí uma utópica ponte,
que me permite, pelas palavras, ser o farol
dessa luz que tantos ilumina, abençoado sol.

Fotografia: Paula Gouveia

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

E agora!?



E agora! Só há um caminho a seguir.
Em frente. De peito firme e erguido.
Nesse corpo o sangue continuará a fluir
e verás que essa dor é amor obstruído.

Ampara-te no vigor e beleza desse sorrir,
e liberta a corrente desse mar comedido.
E agora? Agora… para além desse existir,
é a altura de viver o presente oferecido.

Escuta o coração e enfrenta o Adamastor.
Não tenhas medo de dar uma oportunidade
ao que resta dessa singela simplicidade.

E tenta… encontrar a famigerada felicidade,
sabendo que em ti subsiste, de verdade,
um Ser Humano que merece delibar o Amor.

Fotografia: Paula Gouveia

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Síndrome de Estocolmo


Sofres de uma síndrome que te bloqueou a visão.
Uma cegueira psicológica que te engana a dor.
Veio de Estocolmo num assalto de intimidação,
e chegou até ti, oculta, na cruz do teu sequestrador.

Com o tempo, subjugou-te pelo azorrague da retaliação,
e crente, por apreensão, passaste a presa do agressor.
Hoje! apesar de saberes que é possível a libertação,
já não te consegues desligar emocionalmente do raptor.

Podes não ter consciência da gravidade da situação,
mas um dia sentirás a violência desse despudor,
quando olhares para trás e a sentires como agressão.

Entretanto, fabricas na mente indultos a esse impostor
que se refugia na liberdade mas asfixia-te na obrigação.
E definhas… por pavor… trucidando o autêntico amor.

Fotografia: Paula Gouveia

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

De amor desenhei a minha cruz


Já não ouço o som do vento,
a indicar-me o tal caminho.
Nem nas falas que invento,
quando contigo falo sozinho.

Na quinta, pela última ceia,
rodeei-me de amigos à mesa.
Na sexta, dei ao ataque boleia,
e fiz da familia a minha defesa.

Já não ouço nada do que sinto,
nestes tímpanos estilhaçados.
Mas vejo um coração extinto,
no sangue destes olhos magoados.

E se de amor desenhei a minha cruz,
da sua dor recuperei para a vida.
Incompleto, procurarei encontrar a luz,
que me (que te) indique a verdade sentida.

E assim, acordei, hoje, num tempo dormente,
que deixou de correr, de fora para dentro.
Sem paz, seguirei apregoando lentamente,
fazendo do amor e da esperança o meu epicentro.

Poesia sem fim


Não sei o que te hei de escrever,
mas esta mente não para de falar.
Ela insiste que eu tenho de te dizer,
que por mim deixarás de chorar.

E mesmo que me perturbes o sonhar,
desejo-te o melhor e odeio ver-te sofrer.
Pois se de dia me assaltas o pensar,
de noite raptaste-me o adormecer.

Espero que hoje seja o ponto de retorno,
aos tempos de paz, amor e harmonia,
porque assim, não aguento nem mais um dia.

E por querer um amanhã sem transtorno,
dar-te-ei tudo o que já deixaste em mim:
Amor, Vida e toda esta Poesia sem fim.


Estupidez visceral


A estupidez mascarada de intelectualidade,
atrai... e silenciosamente torna-se viral.
Ela tem uma relação promiscua com a vaidade,
despertando laivos de um narcisismo fecal.

E se a presunção de inteligência é, em verdade,
uma prova de estupidez que nos pode ser fatal.
Arrisco a dizer que tenho mais do que uma amizade,
que vive num Eu consumido por uma doença visceral.

Vivem numa cruzada constante de exultação
de serem, aqui ou ali, falados, ouvidos ou lidos,
expurgando carências de cuidados obstruídos.

De ilusão, refugio-me neste esquissos feridos,
tendo pena que a estupidez como vocação,
apadrinhe tais intelectos com tão fraca reputação.


Entre nós


Quando os olhos inalam amor,
as fotografias tornam-se reais.
Com eles perpetuamos o valor
de momentos doces e intemporais.

E neste, onde souberam compor
a harmonia em memórias visuais,
fizeram do carinho o fio condutor
para um abraço de braços faciais.

As palavras que use, são tuas dentro de ti.
E isso rouba-lhes a verdadeira definição
do que realmente te desejo dizer.

Pela saudade, embaraçado, deixo-te aqui
a perpetuidade do meu, vexado, coração,
num soneto curto demais para tanto ser.

Fotografia: Paula Gouveia

O poeta escreve e o fotógrafo executa


O poeta escreve e o fotógrafo executa,
por entre pilares que balizam o céu.
Um tem a partitura e o outro a batuta,
que tantos identifica no destapar do véu.

O poeta finge fingir enquanto se revela.
O fotógrafo capta essências (até as fingidas).
Um, escreve momentos no olhar de sentinela.
O outro tudo vê no dedilhar de ambas as vidas.

Duas solidões. Distintas Paixões. A mesma luta.
Talvez… o querer alcançar o intangível.
Escrevem imagens, sem qualquer disputa,
captando nas palavras a pureza do absorvível.

O poeta expõe-se sem medo, que a fivela
do sofrimento lhe martirize as mágoas feridas.
O fotógrafo faz do momento a sua tela,
registando instantes de certezas contidas.

Fotografia: Paula Gouveia

Soterrada nos escombros de quem sou


Soterrada nos escombros de quem sou,
sinto que me perdi da liberdade individual.
Permiti que a que luz que outrora brilhou,
se tenha apagado pela trepidez mental. 

Soterrada nos escombros de quem sou,
escrevo para sair desta prisão intelectual.
Luta diária que, de um todo, racionalizou
a irracionalidade deste ardor emocional.

Soterrada nos escombros de quem sou,
prendi-me psicologicamente numa teia,
amestrando a alma numa linear apneia.

Soterrada nos escombros de quem sou,
perdi a coragem de voltar, de novo, a ser
aquela que outrora fez, por te pertencer.

Fotografia: Rui Coelho

Perversa ubiquidade


Na multiplicidade deste corpo desagregado
pela privação da única luz que o (i)lumina,
brilha um farol pelas estações desenhado,
indicando um caminho através da neblina.
Percurso esse, paralelo a um mar salgado,
que desagua no abraço de uma marina.

Sigo-o, cogitando que tenho de ceder à razão,
e libertar a alma de uma perversa ubiquidade.
Decido pausar, ofertando brilho à escuridão,
numa clonagem que burla o luzir da saudade.
A esse carecimento que me tolda a disposição,
elevo meu espírito para lhe despir a identidade.

Fecho os olhos e capto o momento da verdade,
num movimento que de tantas vezes reiterado
acabou por fazer de ti a minha fadada sina
num prazer que me enlouqueceu o coração.
Com as palavras, fotografo a espontaneidade
enquanto fantasio teu corpo de fogo escaldado.
De volta à escuridão, sou esmurrado pela rotina
que me abana, mas me mantém os pés no chão.

Fotografia: Paula Gouveia

Pegadas


Foi tudo isto que deixaste em mim.
Pegadas. Em toda e qualquer direção.
Hoje! chegou mais uma etapa ao fim,
mas amanhã acordarei o alento do coração.

Atrás das dunas, escondo-me da sensação
de te saber aí, lacunar, na tua torre de marfim.
Será medo? Ou, incapacidade de adaptação?
a uma realidade de papel embrulhada a cetim.

Invejo as gaivotas, sabes. Elas sabem voar.
Eu? Não passo de um esboço de poeta alado,
que dava tudo para poder caçar o teu sonhar.

Se eu pudesse voar, estaria amanhã a teu lado.
Transformando o beijo num leve sussurrar,
para dar à saudade a chave do teu cadeado.

Fotografia: Paula Gouveia

Sorriso d'Alma


Respirar Amor. É tudo o que nesta vida preciso.
E mesmo que distante, senti-lo que está perto.
É ter espasmos na alma ao imaginar teu sorriso.
Um sorriso d'Alma de vergonha coberto.

Um sorriso que me retira o improviso,
através desse olhar perdido no deserto.
Um sorriso que deixa em mim o aviso,
que são nesses braços que me liberto.

O teu Amor é o que dá sentido à vida,
por mais casual que o desejem parecer,
no sentir invejoso de tudo ter sem nada ser.

No teu Abraço é onde desejo desaparecer,
sabendo que um dia te soube descrever,
o quanto te amo profundamente, minha querida.

Fotografia: Paula Gouveia



Fardo


Quando te sentires um verdadeiro fardo
na vida daqueles que escolheste amar.
É a altura de perceberes que esse dardo
acertou no centro nevrálgico do suportar.

Convém que te permitas deixar respirar,
refugiando a tua alma num casto resguardo.
E em paz, dar à liberdade asas para voar,
para que ela desvenda e aclare esse céu pardo.

É um sentimento de um vazio angustiante
que nos assoma quando nos temos a mais,
indicando-nos que, no agora, estamos aquém.

Porém, não devemos deixá-lo ser inquietante,
mas sim perceber que é mais um entre os tais
que nos farão crescer na formação do nosso alguém.

Fotografia: Paula Gouveia

Despojos


Sinto, ultimamente, a Vida a jornadear assim.
Manca. Parada. Cansada de ter pouca luz.
Numa fase sombreada pela clareza de um fim,
aprisionada por memórias veladas em baús.

De membros inertes como os de um manequim,
tento apontar na direção oposta à minha cruz.
Desarticulado, mas de pé, ergo-me por ti e por mim,
numa estória de Vida que de mágoa se traduz.

Para a história, ficam os despojos que não caíram!
Os que outrora sorriam de mão dada com a lua,
protegidos por estrelas que da vergonha se despiram.

A preto e branco… prossigo, sem face, e de alma nua,
em lágrimas de cores que nem os Deuses previram.
E não as vendo sinto-as, na minha falta, de alma, da tua.

Fotografia: Paula Gouveia

A escassez que em mim habita


A escassez que em mim habita,
foi levada por esta inquieta estação.
Encosto-me a ti numa saudade ermita,
procurando no horizonte falar-te ao coração.

No meu, sinto um amor que necessita,
de sentir, na liberdade, a sua expressão.
Do teu, espero que esta pequena pepita,
se avolume e nos devolva a exaltação.

É tão bom estar contigo, quando não estás,
que estando, te sei viver na ausência.
Em nós, aprendi, que na infinita existência,

não se faz o que não existe, quando o amor se faz.
Aqui, em silêncio, escuto o teu coração em paz,
e agradeço-te pela ajuda, querida resiliência.

Fotografia: Paula Gouveia

O mar testemunhou


O mar testemunhou,
o amor no seu estado puro,
preso nas redes da razão.
Vagas de ondas de paixão,
que nunca derrubarão o muro,
que ergui para te mostrar quem sou.

O mar testemunhou,
a timidez de um sol matinal,
escondido nos rochedos coloridos.
Gaivotas entoavam nos seus bramidos,
notas de uma simplicidade musical,
inspiradas por um amor que as beijou.

O mar testemunhou,
o teu silêncio e confidência,
enquanto te lia o passado num papel.
A brisa, sorrindo, eriçava-te a pele,
para que te sentisse, em consciência,
dando-te em amor, um calor que te abraçou.

O mar testemunhou,
momentos únicos e apaixonados,
no reboliço de uma toalha estendida.
Partilhas que nos tocarão para a vida,
pela intensidade de segredos partilhados,
e pelo carinho com que o silêncio falou.

O mar testemunhou,
o que areia nunca lhe revelou.
O mar testemunhou,
um Amor que só a ti te dou.

O mar testemunhou,
a entrega do sol no sorriso que este rapaz lhe revelou.

Fotografia: Paula Gouveia

Abraço-te


Abraço-te naquele abraço,
que só a ti te compete sentir.
Abraço-te naquele amasso,
que nos faz, simplesmente, existir.
Abraço-te, sem medo do cansaço,
pois é em ti que quero fluir.
É em ti que reside o último pedaço,
que obriga o meu ser a não desistir.
Abraço-te, sem medo do embaraço,
pois foi contigo que aprendi a submergir.
Foi contigo que ao amor dei espaço,
mesmo que de frio me insistas cobrir.
Abraço-te naquele abraço,
que só em ti o posso sentir.

Fotografia: Paula Gouveia

Caminhar sob as nuvens


Procuras nesse caminhar sob as nuvens
desatar-te de nós que te prendem.
Vives bloqueada nesse amparo onde deténs
solas plásticas, que o teu caminhar impedem.

Vives equilibrada num desequilíbrio constante,
pregada a uma parede incauta ou no bolso da sua algibeira.
Sujeitas-te ao passar das estações de um tempo errante,
Esperando, que tal como as nuvens, esta apatia se torne passageira.

Já te sentes assim há tanto, que já te é fácil suportar
qualquer tipo de abuso,  devido a essa consentida obrigação.
Sem te poderes mexer, permites que tudo em ti se possa pendurar,
ignorando quem te usa, que és uma linha de alta tensão.

E assim permanecerás tu, observando o passar da vida,
numa vontade própria, imprópria para quem te quer restringir.
Nos que por ti passam, vais dando choques como contrapartida,
e mesmo que não os mates, acabas por a sua força vital reduzir.

Mas continuas, fixa entre dois pontos, nesta ilusão caminhando,
através de uns sapatos já gastos de tanto te magoarem os pés.
Daqui! A coragem permite-me através destas palavras te ir dando
a carga possível, para que te sintas, elétrica, como realmente és.

Fotografia: Paula Gouveia

Ela já não está aqui.


Sabes… esqueci-me de te perguntar algo!
A mente vagueia e fica sempre tanto por dizer.
Eu sei. Sou assim. Um mero poeta fidalgo,
que na arte do falar, acaba sempre por se esquecer.

É a tua voz. Encanta-me. Faz-me perder o norte.
Não sei o que te diga, mas deixas-me sempre assim.
Neste pensar azarado, porém bafejado pela sorte,
daquela que só conhece, quem sente um amor sem fim.

Olha, fica para outras núpcias, se em sonhos, te voltar a escutar.
Eu sei. Sou assim. Utopista. Mas é tudo porque gosto muito de ti.
Tanto que vim aqui na esperança de te poder encontrar.
Mas não estavas. E o banco vazio, chorou-me: Ela já não está aqui.

Fotografia: Paula Gouveia

Guardo recordações sem fim


Guardo no passar das estações,
conversas reveladas em segredo.
Faces coladas, no colo de corações,
que na força do amor viveram sem medo.

Guardo agora esta saudade que não se explica,
de sentir no peso dessas memórias… o amor.
De lhes sentir a alma num carinho que por aqui fica,
e que nem a passagem do tempo lhe tirará o fulgor.

Guardo nas minhas diárias contemplações,
sentires, únicos, escondidos debaixo do arvoredo.
Momentos aprisionados às suas próprias expressões,
e que condenam quem os abriga no seu, eterno, degredo.

Guardo recordações sem fim num tempo que replica,
um sentido de complacência que me pincela de côr,
a tristeza do preto e branco que de um estar suplica,
mas que percebe como esse tempo é manipulador. 

Guardo recordações sem fim,
mas não passo de um mero banco de jardim.

Fotografia: Paula Gouveia