quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Humanidade


A estrada apresenta-se assimétrica e empedrada,
seduzindo, distante, um céu cinzento e enublado.
O sol, da Vida, quis perder-se na lua da madrugada
escondendo-se dos sonhos num túnel mortificado.

Lá fora, observo um vulto de tristeza encapotada
desviando o olhar do seu, doloso, caminho traçado.
Paro a dor, e mergulho no outro, qual alma penada,
cogitando: O que mudará este existir dissimulado?

Como viver longe de um, constante, julgar opressor?
A solução passa, apenas, pelo perdão, pela bondade,
e por renunciarmos à castração impiedosa do amor.

Devemos, assim, dar voz à sua singela grandiosidade,
permitindo, pelo exemplo, que ele seja o embaixador
desta benevolente, porém, entorpecida Humanidade.


Fotografia: Paula Silveira da Costa

sábado, 29 de outubro de 2016

Tenho saudades tuas


Num pássaro de corda oiço o vento,
em busca de um carneiro selvagem,
numa canção soletrada de talento
por um Murakami único na linhagem.

Invento um sonho, repleto de coragem,
tal como a rapariga do seu argumento.
Nele, revejo em mim, a solene imagem
de um Homem preso àquele momento.

E se em 1Q84 li uma realidade paralela
numa saudade sob a luz de duas luas.
Em 2016, vivo uma dualidade sentinela,

num amor que abraça duas almas nuas,
enquanto leio na tua, lacrimejada, janela
uma voz a chorar: Tenho saudades tuas.

 

Fotografia: Paula Silveira da Costa

sábado, 22 de outubro de 2016

Olhar anti-inflamatório


Quando as dores se tornam insuportáveis
o corpo sente-se de esperança despejada.
A alma é invadida de mágoas irreparáveis
em espasmos de uma tristeza continuada.

Os dias amanhecem vagos e implacáveis
adormecidos por uma realidade obrigada.
Os sorrisos, esses, tornam-se manietáveis
perante o entorpecer da Vida apresentada.

Ultimamente ouço-a gritar, silenciosamente,
palavras escritas por um amor ambulatório
que se quer ouvir neste amordaçar da mente.

Exausto, perscruto um horizonte exortatório
tentando dar ao coração uma visão diferente
sob o efeito desse teu olhar anti-inflamatório.


 Fotografia: Paula Silveira da Costa

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Mural prisão



Observo-te rio que desaguarás no mar
e só oiço tristeza a invadir-me o olhar.
Nas tuas ondas vi pessoas serem usadas
num não querer de vontades descartadas.
Vi promessas eternas de um amor em vão
rasgadas no sangue que te escorre na mão.
Porém, ainda adivinho amor nesse coração
por mais que me quede nesta mural prisão.
Os teus braços desaguam neste corpo aflito
por mais que a distância se dispa num grito.
Mas tu não o ouves. Já não queres escutar.
E segues na corrente destinada a olvidar.
As vidas seguirão de saudades ostracizadas
nas vagas das memórias… por ti afogadas.
Enquanto o espírito, esse insarável proscrito,
te osculará num qualquer poema escrito.

Fotografia: Paula Silveira da Costa
 

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Uma inteira metade

A minha alma é uma inteira metade.
Metade sombria. Metade iluminada.
Sozinho, subo os degraus da saudade,
sentindo a tua, no pretérito do nada.

No final permanecerá a sincronicidade
de um olhar abandonado pela escada
que no varão nos indica que a liberdade
é uma incompleta e impiedosa charada.

Sem saberes viras costas enquanto eu
paro o tempo e, escuso, contemplo-te.
Em silêncio roubo-te o poema ao céu

e nesta escrita quimérica … beijo-te,
terminando o ensejo com o apogeu
de ouvir os teus lábios dizer: Amo-te.

Fotografia: Paula Silveira da Costa

domingo, 25 de setembro de 2016

Queda Livre



Nos últimos tempos encetei quedas
apoiadas por uma crença requerida.
Dei sentido à fé das suas labaredas,
queimando-me na essência da Vida.

Hoje, amparado por um paraquedas
ultrapassei aquela intrepidez raticida.
Beijei o medo nas faces das moedas
e lancei-me numa queda livre suicida.

Na pureza do céu senti a alma levitar
no canto mais profundo do coração.
Aí... ouvi aquela voz única a soluçar:

Já que ousaste Ser na arte do Amar,
quando voltares a pôr os pés no chão,
jamais te esqueças dos teus Abraçar.


sábado, 10 de setembro de 2016

Love you deeply in me


Love you deeply in me
Yet, life tore our souls apart
Dawn may give us a new start
If we decide to hear our heart
More than the breeze of the sea.

For ever and ever
Even in dark times
Anger will never
Exhale my rhymes.

With all my heart and soul
Allow me to re-enter you
Masked in the whisper of the birds.
Half will never make a whole
And our love should live through
Salted by the truth of the words.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Alter ego bipolar



Podes ter o seu corpo no acordar,
mas no sonhar a sua alma é minha.
Podes beijar a sua pele a cada deitar,
que ela sem meu toque fica sozinha.

Ela contigo pode ter o hábil conforto
de viver uma tranquilidade controlada.
Mas também viverá no sonho morto
de uma vida intensamente apaixonada.

Linha a linha coserás seu, belo, coração
tendo como agulha o amor dependente.
No nó final desatarás a dor da desilusão
já que o seu adeus foi frio e permanente.

Aceito a derrota com total clarividência
perante a força desse poder angelical.
E viverei na sombra desta impotência
que faz do teu inferno um paraíso banal.

E termino, esta odisseia de amor ermita
agradecendo-lhe pelo acordar do dom
que voltará a dormir para se preservar.
Desisto! Exausto de varrer pela escrita
o pó de um amor que faz da dor o tom
da batuta deste, uno, alter ego bipolar.


Poema oferecido ao meu Amigo Paulo Coutinho para a sua página Espasmos d'Alma.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Expetativa



Somos usados para os fins tido convenientes
por quem nos circunda nesta selva humana.
As teorias relacionais são meros expedientes
para justificar a cruel subsistência na savana.

Amigos. Familiares. Cônjuges. Dependentes.
Aqui ou ali anularão no limite do seu nirvana
princípios de vida que se tornarão prurientes,
transfigurando ética numa falsa membrana.  

O superior equívoco do amor é a expetativa
que credencias em volta da palavra beijada
por quem te ajuízas ver como prerrogativa.

O da amizade é quando começares a achar
que a expetativa, que doas de forma velada,
te irá alimentar de um momentâneo julgar.

Fotografia: Paula Silveira da Costa

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Anjo sombrio


Entregue ao silêncio da exaustão,
fecho os olhos para me esquecer.
Apoio-me no muro da recordação
e descanso as asas deste sofrer.

O mar já não afaga o coração,
e o sol já não o quer aquecer.
Resta-me o sossego da solidão
para carpir o motim do perder.

As asas já não detêm a ligeireza
de me guiar ao chão da verdade.
Porém, hoje tenho esta certeza:

Sou um sem abrigo sem o rio
onde desaguava a liberdade
deste alumiado anjo sombrio.

Fotografia: Paula Silveira da Costa

domingo, 26 de junho de 2016

Espiral da Saudade


O amor é a morte da respiração
abraçada pela apneia da felicidade.
É uma faca de tristeza no coração,
livre na masmorra da invisibilidade.

Amar é ajustar as velas da razão
para navegar na espiral da saudade.
É saber respeitar a dor da decisão
mesmo que ela te fira a humanidade.

A Vida foi-nos dada para ser sentida
na procura da absolvição pelo amor,
mesmo que condenada num bem maior.

E não para ser racionalizada pela dor
que na pureza dos olhares se valida,
sorrindo num doce uníssono: "É a Vida".


 Fotografia: The spiral - Paula Silveira da Costa (Página My eyes)

terça-feira, 21 de junho de 2016

Desistir


A gente não desiste do que quer.
Desiste simplesmente do que dói.
Pertenças palavras de um ignoto.
Seja de um Homem ou da Mulher,
ou daquela amizade que nos mói,
desiste-se pelo cansaço indevoto.


Desistir é não querer continuar.
É não arrostar o seu Adamastor.
É abster-se da exultação do sonhar
por um íncubo matizado de Amor.

Jamais se deve desistir do encanto da Vida
por mais que a sua razão esteja de partida.

Desistir… Nunca foi, é ou será o caminho.

 
Fotografia: Paula Silveira Costa

sábado, 18 de junho de 2016

Na clarividência do acordar


Perdoa-me!
Só te quis dizer
o que tinha para chorar.
Lágrimas presas
num eterno doer
que despejadas de defesas
fizeram as cordas vocais gritar.
Perdoa-me!
Não te quis desrespeitar,
mas a dor que me invade
rasga-me e fico sem saber
se me afundo na saudade
se me afloro na verdade
de nos ver a definhar
num amor que sabe respeitar
mas que tem de se perder.
Perdoa-me!
Mas ele nunca irá acabar.
Aliás… não há nada a perdoar.
Absolutamente nada.
Apenas a agradecer.
Não me perdoes, estás a ver.
Antes elogia-me o enlouquecer.
Por através da nossa almofada,
fazer de ti a minha fada,
e nela, de prazer, te encantar.
Perdoa-me!
Ou não! Já não sei o que escrever.
Afinal, acabei por teus lábios beijar
Tenho uma mente, alucinada,
que no algodão dessa pele amada,
tudo faz para te dar prazer.
Na tua, por aí andarei até morrer,
a sentir no sangue a fervilhar
palavras de amor ditas no olhar.
E se te elevo a cada adormecer
é na clarividência do acordar
que sei que apenas andei a sonhar.
Porque não te consigo desprender
desta alma que teima em te amarrar.
Perdoa-me!
Só te quis dizer
o que tinha para chorar.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A memória é um silêncio com esperança


A memória é um silêncio com esperança
que bate colérica nas muralhas da mente.
Tal como o mar, ela desgasta e avança,
levando, sem piedade, tudo à sua frente.

As fendas estão à vista de toda a gente
encalhadas nesse pontão da lembrança.
Ao longe vejo um amar inconsequente
a massacrar uma rocha alheia à mudança.

Mas se amar é adormecer na tua alma,
apesar de na minha a tua acordar calma,
então que se sonhe no frio da realidade.

Porque a dor maior que a de esquecer,
um Amor, é aquela que nos faz perder
o que se julgava ser a autêntica Amizade.


Fotografia: Paula Silveira Costa

sábado, 4 de junho de 2016

Turva existência


Existir numa turva existência
(passe o, vicioso, pleonasmo)
é ter de abraçar o marasmo
num trilho de falsa aparência.

Só ou cingido de um vil sarcasmo
sigo pela artéria da consciência.
Dando à Vida, na paz da cedência,
oxigénio para respirar entusiasmo.

O elo mais fraco, sempre, serei eu
por mais força que busque à raiz
dos beijos que a floresta nos deu.

Sem sol... perco a energia motriz.
Suspirando, neste cenário breu,
por um instante que me faça Feliz.


Fotografia: Paula Silveira Costa

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Perfeito vazio



Os dias passam e nunca mais vejo,
O dia em que me irei ver livre de ti.
Sinto-te repulsa apesar do despejo
que, de ti, dou à mente, aqui ou ali.

E se no cansaço, te alento no bocejo,
na união de um nós uno, eu te aboli.
Resignado! Vivo para além do desejo
e fortaleço o Ser que me colocou aqui.

E se o mal vem da genética que herdas
deve ser triste viver nesse perfeito vazio,
déspota, que nos causou tantas perdas.

Cego, nesse tão teu galopante fastio,
acabas por não passar de um merdas,
seu neoplasma asqueroso e doentio.


Fotografia: Paula Silveira Costa