quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Do lado certo do coração


Do outro lado do coração,
tenho as costas arqueadas
a memórias passadas
que me gaguejam a mediação.
Apesar de estares presente,
tens estado demasiado ausente,
destes lábios pejados de tesão.

Do outro lado do coração,
existe um vazio do existir
que, dormente, te julga sentir,
no silêncio de cada respiração.
Enuncias que me desejas ver feliz,
num beijo de esquimó que me diz
que acabou o sonho da nossa união.

Do outro lado do coração,
porém, subsistirás sempre tu
expondo ao meu amor o nu
de uma Vida de insatisfação.
Sofrido, acato o teu seguir em frente,
prometendo dar-te, diariamente,
um beijo, do lado certo do coração.

Fotografia - Josefina Melo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Vive


Estar com alguém por carinho, ternura ou pena,
só porque se assumiu outrora um compromisso.
Não passa de uma morte lenta numa arena,
que te definha na passagem de um tempo submisso.

Amar por aparência ou pelo percurso da vida,
não te dará, nunca, a verdadeira felicidade,
mesmo que ainda nutras uma afetividade sentida.
Amar deverá ser algo que nos arrebata a razão,
e que nos invada de uma pura insanidade,
para nos mostrar quão bela é a face do nosso coração.

Estar com alguém apenas e só pelo caminhar do trilho,
nunca te levará ao destino que um dia iniciaste.
E jamais deverás ficar, apenas pela existência de um filho,
por mais que aches que esse amor altruista te baste.

Aos meus olhos, deverás viver a vida através do teu olhar,
porque ela é curta para a veres pelos demais,
inclusivé pelo meu, que aqui te tento relatar.
Segue o teu coração, e não temas esse salto de fé.
Arrisca, e nunca deixes de escutar o tom dos teus sinais vitais,
para que no final, a vida, ao sorrir, te aplauda de pé.

Estar com alguém, deve ser mais que existir,
e não apenas uma forma de sobreviver.
Deve envergonhar o amar, de tanto lhe incutir,
palavras que lhe demonstrem a razão de viver.

A vida é para ser vivida, em toda a sua plenitude.
Queres um conselho: Da sua essência, faz a tua atitude.
Vive.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Um lugar mágico


Olho-te pelo postigo da tempestade,
e assopro as nuvens para um lugar remoto.
Lentamente, vejo no horizonte a claridade,
e celebro-te naquele inicio de tarde maroto.

O mar, nas nossas costas, sorria de felicidade
por poder contemplar um amor tão devoto.
O sol ardia, abraçando-nos de graciosidade,
em contraste com o que capto nesta foto.

A conjuntura é opaca e indicia um destino trágico,
num quadro traçado por Frei Pedro da Conceição.
Em saudade deixo-te, neste olhar, o meu coração,

e naquele que considero como um lugar mágico,
relembro-nos, na pureza do Santuário da Peninha,
sabendo, que sem ti, estarei para sempre sozinha.

Fotografia - Josefina Melo

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Raízes queimadas


Tombei. Não resisti às queimaduras.
Por ti, tanto, lutei mas não foi suficiente.
Dei-te respirar, em vez de amarguras,
quando o ar se tornou pesado ou ausente.

Caí, pelo cansaço, numa dispneia fluente.
Da Vida… guardarei as memórias puras,
apesar da tristeza perpétua mas indulgente,
de sucumbir num tapete de pedras duras.

Dei sombra ao amor numa história por acabar.
Guardei segredos d’almas desaproveitadas.
Através da seiva, clamei em silêncio pelo teu amar,

mas protegi-te sempre das tormentas inesperadas.
Hoje! Nada sou. Pois ao consentires que me tirassem o ar,
desfaleci, chorando, nos poros destas raízes queimadas.

Fotografia - Ana Cristina Azevedo

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Poema de luz


Penso em ti a cada alvorar,
estejas eternamente distante,
ou à distância deste olhar,
que te sonhou na noite estrelar.
Penso em ti neste cristalino acordar,
e desvio as nuvens para ter diante,
aquela que de tanto amar
faz meu coração prantear.

Penso em ti porque penso,
que para amar é preciso saber libertar.
E na imensidão deste brilho ascenso,
alforrio-te a alma neste horizonte distenso.
Penso em ti porque, em mim, tudo é intenso,
quando sinto o que o passado teimou em deixar.
No presente, vejo a ilusão de um encadear propenso
a saudades esfomeadas por um futuro suspenso.

E no rasgar das nuvens que me querem fazer esquecer,
ilumino-te, afagado, por este poema de luz,
compondo no céu da Vida a minha cruz.

Penso em ti enquanto outros te sentem,
numa proximidade disfarçada de admiração.
De tocares, olhares e flashes te investem,
não percebendo que contra nada competem.
Penso em ti em pensamentos que consentem,
que seja à distância que me queiras em teu coração.
No fundo, de onde estou, ergo-me na certeza do ontem,
e caminho, até ti, nesta claridade que tanta luzência contem.

Mesmo imenso, fico perdido, quando deixo de te ver,
pensando que é na noite que outro olhar te seduz,
escrevendo nos seus dedos os contornos da minha cruz.

E no sorrir das nuvens que te recordam o meu ser,
compões na prisão do chão, a minha, a tua, a nossa cruz,
agradecendo, agrilhoada, por este poema de luz.

Fotografia: Ana Cristina Azevedo

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O meu corpo vagueia pelo teu



O meu corpo vagueia pelo teu,
numa expedição tranquila e sensorial.
Foco-me em ti, cismática, e sinto o apogeu
na ânsia de captar esse olhar de Mulher fatal.

Entre as sombras e a luz, vislumbro o céu,
enquanto a lente transpira sem igual.
Da inspiração, esculpo no flash o meu troféu,
exibindo-te, despida de qualquer cegueira moral.

Sou uma máquina mas não me sinto como tal,
quando pela objetiva alcanço tanto por dizer.
Através dela, aprimoro a distância focal,

delineando, no instante, a alegria ou o sofrer.
Não te sinto, mas reconheço nessa timidez sensual,
a vontade, férrea, de um toque que te faça renascer.

Fotografia - Rui Coelho

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Obrigado Vida.



Entrego. Confio. Aceito. Agradeço.
Sou um privilegiado. Obrigado Vida.
Amo. Sou Amado. Num amor sem preço.
Escrevo-te poesia como contrapartida.

Na tua voz escuto o fim do recomeço,
conformado com um dia te ver de partida.
No teu abraço, secretamente, me despeço,
honrando a memória que tanto te valida.

E por a ti tanto me entregar, muitas vezes te peço,
que não me desprezes por um punhal fratricida,
como se a nossa irmandade não tivesse saída.

E porque acredito que de ti tudo mereço,
fiz do teu Amor por mim o meu endereço,
sussurrando-te, humildemente, Obrigado Vida.

O Amor à distância


O Amor à distância é deveras interessante.
Se por vezes os que de nós vivem no dia a dia,
apenas existem num dever de um estar distante.
São aqueles que distantes nos enchem de magia,
as privações que a alma esperneia num apelo intrigante.

O Amor à distância não significa… mesmo… nada,
quando nesse espaço vazio existe aquele Ser,
que tanto significa perante tamanha e inóspita cilada.
E se nesse intervalo, sentires nesse Amor a razão do teu viver,
serás capaz de lidar com a dor dessa saudade encapotada.

O Amor à distância indica, muitas vezes, a autêntica forma de amar.
E mesmo distante, se for autêntico, ele nunca morrerá de esquecimento,
pois quem julga que a não presença faz esquecer, esquece-se que o recordar
é a fonte de energia que coloca o coração na direção do firmamento.
O Amor à distância, sendo Amor, apenas terá de aprender a esperar.

Fotografia - Rui Coelho

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

De braços abertos


De braços abertos, mesmo à distância,
aconchego-te no amanhecer da cidade.
E a ponte que nos separa da circunstância
de seres meu, encurta-se na força da vontade.

Na vontade de ter esses braços em abundância,
para silenciar estes gritos mudos de saudade.
De braços abertos, ofereço-te a elegância,
de um corpo plangente da tua sexualidade.

A ponte existe. A água por debaixo corre.
Mas a lembrança da tua alma jamais secará.
São borboletas que de Amor esta Vida cobre.

Nesta margem, grito-te sem saber se ele será,
escutado por esse coração, empedrado mas, nobre.
De braços abertos, dou de volta, o melhor que o meu te dá.


Fotografia - Sebastião Correia de Campos
 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O teu pé esquerdo


Acocorado perante a tua beleza,
paralisei no meu próprio espaço.
Raptando a circunstância na certeza,
de que só me sinto Eu no teu abraço.

Sou uma alma salpicada pela, tua, natureza.
Um olhar parado, à espera do teu regaço.
Serei a caricia na mão num sinal de gentileza,
ou o aparo se te afracar o vigor do braço.

E nas gotas que vou bebendo da Vida,
preservo no olhar a palavra escondida.
registando o momento na ponta da mão.

À distância, captei o teu pé esquerdo a sorrir,
na simetria de um outro que não soube reproduzir,
a linha reta que a tua alma tem direta ao meu coração.

Fotografia - Sebastião Correia de Campos