terça-feira, 12 de julho de 2016

Expetativa



Somos usados para os fins tido convenientes
por quem nos circunda nesta selva humana.
As teorias relacionais são meros expedientes
para justificar a cruel subsistência na savana.

Amigos. Familiares. Cônjuges. Dependentes.
Aqui ou ali anularão no limite do seu nirvana
princípios de vida que se tornarão prurientes,
transfigurando ética numa falsa membrana.  

O superior equívoco do amor é a expetativa
que credencias em volta da palavra beijada
por quem te ajuízas ver como prerrogativa.

O da amizade é quando começares a achar
que a expetativa, que doas de forma velada,
te irá alimentar de um momentâneo julgar.

Fotografia: Paula Silveira da Costa

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Anjo sombrio


Entregue ao silêncio da exaustão,
fecho os olhos para me esquecer.
Apoio-me no muro da recordação
e descanso as asas deste sofrer.

O mar já não afaga o coração,
e o sol já não o quer aquecer.
Resta-me o sossego da solidão
para carpir o motim do perder.

As asas já não detêm a ligeireza
de me guiar ao chão da verdade.
Porém, hoje tenho esta certeza:

Sou um sem abrigo sem o rio
onde desaguava a liberdade
deste alumiado anjo sombrio.

Fotografia: Paula Silveira da Costa