sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Em silêncio



A tua apatia, empurra-me pela calçada do desespero.
De pedras húmidas pintada, em agonia, pelo choro do exagero.

Abuso que em mim, te permiti um dia deixar.
Julgando que assim, o amor poderia encontrar.

Mas não passei de um fantoche, um fetiche temporário.
Uma espécie de deboche, que ao arrepio do desejo tiras do armário.

Talvez um dia o teu coração de pedra, ao voltar atrás nos anos.
Veja que a vontade que em ti encerra, foi influenciada por sestros insanos.

Entretanto partirei, sabendo que fui derrotado pelo medo.
Desgostoso porque ousei e amei, a tua essência em segredo.

E se na sombra do horizonte, deslumbrares o meu sequioso e ardente espirito.
Foi porque não voltei a atravessar a ponte, e o fogo que vivia em nós foi circunscrito.

De lá acenar-te-ei em sofrimento, envolvido numa lágrima de saudade.
Oculto pela distância disfarçarei o sentimento, que sempre te viveu com autenticidade.

E em silêncio saberei agradecer, tudo o que de ti soubeste partilhar.
E, se em silêncio saí do teu querer, no silêncio, sei que te voltarei a amar.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Anjo Negro


O teu olhar de avelã é sensual.
É um diamante de um brilho angelical.
É a corrente de um rio que acalenta a esperança,
de no seu desaguar mergulhar no amor,
que refeito de uma outrora saborosa dor,
soube na sua força encontrar a bonança.

Teus lábios sugerem uma suave loucura,
que encanta e adormece a tortura,
de quem neles se quer perder.
Teu rosto descreve a beleza,
através desses traços de delicadeza,
que o melhor poeta não saberia descrever.

Pertences ao último degrau de uma hierarquia,
que nos protege de noite e dia,
através dos seus poderes sobrenaturais.
Tua aura é de alguém que ama.
És feita de luz e de chama.
És a mensageira dos mortais.

Divindade de olhar doce e terno,
capaz de levar qualquer um ao inferno,
num simples gesto assertivo.
Tua lividez de calor protector,
protegida por esse sorriso libertador,
aprisiona a alma do meu observar contemplativo.

És a musa que a fantasia traz,
naquele que não é capaz,
de te sentir sem ser a sonhar.
És a melodia que me vem à cabeça,
fazendo que da dor me esqueça,
e que no amor volte a acreditar.

Porque voltas, Anjo Negro, da perdição?
Porque voltas para quebrar meu coração.
Este coração frágil e perdido na recorrência.
Tua aparição tem um poder devastador.
Tua mensagem tem um conteúdo perturbador,
e que me entrega de novo à demência.

Quem me dera ser querubim,
para pôr termo a esta dor sem fim,
de te querer para além da vida.
E aí estaria eu no cume,
e de ti faria lume,
para me iluminar a saída.

Porque voltas, Anjo Negro, da perdição?
Porque te deixo manietar o meu coração.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A dança do Amor


Bailas para nós,
dançando sem voz,
nesta trama repleta de cor.

Usas teu corpo de forma feroz,
num movimento singelo, mas veloz,
enquanto te exprimes na dança do Amor.

Bailas com altivez,
nessa mutável mudez,
invocando vários sons visualmente.

Tua alma ofereces à nudez,
gritando através da fluidez,
sentimentos, que só a paixão consente.

Bailas sem medo do após,
vivendo com deleite o presente,
entregando-te à arte sem pudor.
Ofereces, nesse desgaste compensador,
palavras, de um romance luminescente,
à altura das escritas pelo Eça de Queirós.

Bailas assim,
para ti,
e para mim,
a dança do Amor.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sinto borboletas dentro de mim


Sinto borboletas dentro de mim,
espalhando amor
em cada canto ferido.
E no incómodo desse prurido,
vou-me curando da dor,
no bater daquelas asas de cetim.

Liberto-me deste coração
fechado, a cadeado.
E deito as chaves fora.
Resolvo dar-me a mão.
Deixar de ser salgado.
Aqui. Hoje. Agora.

Sinto borboletas fora de mim,
levitando-me num elevador
de paz e tranquilidade construído.
Deixando aquele sentimento dorido,
que nas palavras de outro escritor,
certamente, descreveriam um fim.

Foste uma constante na nossa equação.
Foste esse valor que pode ou não ser especificado,
nesta espécie de metáfora.
Foste demasiado variável, por oposição.
Foste um fósforo aceso e apagado,
vivido e descrito nesta anáfora.

Sinto borboletas dentro de mim.
E para quem ama,
a vida continuará assim …



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Aprende a Ser


És melhor do que essa voz,
que porfia no teu interior.
Aprende a Ser, entre nós,
quem realmente és, sem temor
de um qualquer julgamento.
Eleva a tua vontade ao firmamento.

E se ao contrário caminha o ser humano,
julgando tudo sem nada saber.
Esse apreciação nunca causará dano,
na alma de quem se sabe defender.

Não. Não te importes com esse tipo de sentença,
quando é proferida na génese da maldade.
Escuta, mas reage com total indiferença,
aos gritos silenciosos da mediocridade.
São meros sussurros que precisam de alimento,
proferidos por almas com inteligência de jumento. 

E se ao contrário caminhares tu,
saberás tua vida enriquecer.
Libertando-te desse espirito nu,
que nada te faz aprender.

Aprende, simplesmente, a Ser.
E nessa altura, nada, nem ninguém,
te ousará desmerecer.

Simplesmente, aprende a Ser.


domingo, 11 de novembro de 2012

Madame Persa


Madame Persa.
És uma energia cheia de nada,
oblíqua e de amor deformada.
Não passas de uma peça,
fria. Sozinha. Mal amada
e prestes a ser quebrada.

O teu olhar de felina.
Já não intimida ninguém,
que saiba para onde vai e de onde vem.
Não passa de um suspiro de menina,
escondido atrás de um outro alguém,
perdido entre o mal e o bem.

Madame Persa.
Tuas palavras estão cheias de nada.
Madame Persa.
Não passas de uma alma penada.

Madame Persa.
Teu alento perdeu-se na estrada,
ao longo desta nossa caminhada.
Tens traços da Amélia escrita pelo Eça.
Vives numa paixão que não pode ser consumada,
e que encontra na clandestinidade a forma de ser desejada.

E será com essa adrenalina,
que verás daqui por mais além,
que esse teu amar ficou muito aquém.
Sentirás que não passou de uma toxina,
que intoxicou sem desdém,
a vida daquele que te amou como ninguém.

Madame Persa.
Tuas palavras já não sabem a nada.
Madame Persa.
Quem és tu, mulher angustiada?


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Realidade cíclica



Percorro largos corredores.
Gente. Imensa. Atarefada.
Faces traçadas a dissabores.
Gente. Tensa. Amargurada.

Observando,
julgo esta tela acrílica,
tão difícil de ser tangida.

Corpos confusos nos valores.
Almas. Fechadas. Egocêntricas.
Robôs perdidos nos seus pudores.
Almas. Caladas. Simétricas.

Sonhando,
esboço uma personagem idílica,
no contra-senso de tanta angústia contida.

Esperanças mergulhadas em incertezas.
Vidas. Inquietas. Parcimoniosas.
Júbilos falsos, afogados em tristezas.
Vidas. Incompletas. Ansiosas.

Acordando,
encontro nesta realidade cíclica,
sentenças de uma espiritualidade despida.

Respiro.
Sinto-me.
Sozinho.
Vou escrever.
Talvez,
escrevendo,
desmistifique,
o meu caminho.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Tanta coisa ...



O teu fulgor finda com a mesma rapidez.
que a bala quando trespassa o muro,
que a luz quando se desliga o interruptor.
Entra de rompante, mas vai perdendo a rigidez,
escondendo-se nesse local frio e escuro,
que aos poucos se perde do verdadeiro amor.

Tanta coisa que me apetece escrever,
e que a minha boca insiste em calar.
Mas se escutares o silêncio do meu olhar,
verás que ele acabará por revelar,
palavras que sinto, mas que não consigo prever.

Teu coração insiste, intermitentemente,
em viver numa montanha russa de vontades,
em querer, não querendo, sentir o mistério do luar.
Mas vives, nas palavras de um desejo aparente,
que de dia se desdobra em inquietas saudades,
para de noite esquecer o que viveu à luz solar.

Tanta coisa que, de ti, fico sem saber,
quando, de mim, te vejo resvalar.
Segundos de minutos que gostava de adivinhar,
nas horas que antecedem o teu gelar,
e me fazem perder dias para te tentar perceber.

Tanta coisa que teus gestos indicam,
e que teu corpo gosta de insinuar.
Gestos que meus olhos amplificam,
na ânsia de nele meu amor dissipar.

Tanta coisa que me tira o sonhar,
quando a ti te entrego o comando
desta narrativa que desejo encerrar.

Tanta coisa que por ti me fez rastejar,
na esperança do teu verdadeiro eu encontrar.

Tanta coisa que de ti quis amar.

Tanta coisa …


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Nunca é suficiente



O teu nunca é suficiente,
dilui-se nos pingos da chuva caída,
aos pés deste corpo que sente,
o silêncio como a chave para a saída.

Vazio de um som que, por mais que tente,
nada diz a esta alma ferida.
Fuga de um prazer que não mente,
quando em meus lábios encontra vida.

E assim continuas fugindo,
usando e abusando da minha vontade,
enquanto a chuva continua caindo.

E o tempo, nosso, continua indo,
à espera de em ti encontrar a bondade,
ou de na saudade se ir descobrindo.