segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Poema de luz


Penso em ti a cada alvorar,
estejas eternamente distante,
ou à distância deste olhar,
que te sonhou na noite estrelar.
Penso em ti neste cristalino acordar,
e desvio as nuvens para ter diante,
aquela que de tanto amar
faz meu coração prantear.

Penso em ti porque penso,
que para amar é preciso saber libertar.
E na imensidão deste brilho ascenso,
alforrio-te a alma neste horizonte distenso.
Penso em ti porque, em mim, tudo é intenso,
quando sinto o que o passado teimou em deixar.
No presente, vejo a ilusão de um encadear propenso
a saudades esfomeadas por um futuro suspenso.

E no rasgar das nuvens que me querem fazer esquecer,
ilumino-te, afagado, por este poema de luz,
compondo no céu da Vida a minha cruz.

Penso em ti enquanto outros te sentem,
numa proximidade disfarçada de admiração.
De tocares, olhares e flashes te investem,
não percebendo que contra nada competem.
Penso em ti em pensamentos que consentem,
que seja à distância que me queiras em teu coração.
No fundo, de onde estou, ergo-me na certeza do ontem,
e caminho, até ti, nesta claridade que tanta luzência contem.

Mesmo imenso, fico perdido, quando deixo de te ver,
pensando que é na noite que outro olhar te seduz,
escrevendo nos seus dedos os contornos da minha cruz.

E no sorrir das nuvens que te recordam o meu ser,
compões na prisão do chão, a minha, a tua, a nossa cruz,
agradecendo, agrilhoada, por este poema de luz.

Fotografia: Ana Cristina Azevedo

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