quarta-feira, 27 de maio de 2015

À tua espera


O betão desta megalómana perspectiva   
cimenta-me a imagem de te poder escutar.
Tranquila, obstinada e decerto assertiva,
assim te observo através da objetiva
enquanto te sinto o compasso do respirar.

És feminina na génese e neutra na anuência
àqueles que de ti revelam seu coração.
Simpática e acolhedora à primeira aparência,
relevas na abnegação toda a clarividência,
que alenta por esses poros de compaixão.

E aqui estou eu, de perna cruzada, à tua espera,
num corpo, presente ausente, pintado a invisível.
Meus sonhos beijam-te e atingem a estratosfera,
ao trepar por essa camada numa apetência sincera,
aguardando por explodir nesse aroma aprazível.

Sei que não me vês, mas estou a teu lado,
num banco de madeira, silenciosamente vazio. 
Observo-te, pela reminiscência aprisionado,
e afago-te a alma num piscar de olho, calado
por um apreço que me provoca um eterno calafrio.

Fotografia: João Santos

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