domingo, 1 de julho de 2012

Beijas-me. Tocas-me. Possuis-me num nada.



Um tremer ao portão,
me invade,
quando toco à campainha.
Carrego no rés do chão,
numa saudade,
de te sentir só minha.
Abres a porta receosa,
pedindo-me que entre,
no teu éden de aventura.
A fechadura, tranca-me, melodiosa,
numa dança de ventre,
e num segundo, sinto a tua loucura.
E de repente, mergulho em ti,
através dos teus olhos de criança,
afogando-me nesse lábio hipnotizante.
Viajo então, sem perceber que me perdi,
no desequilibrio de uma balança,
que me gere este amor, tão louco e perturbante.
Sem dar por mim, sinto-me cru,
invadido por um nervoso miudinho,
enquanto te sinto, nas mãos o corpo.
Memórias que tranquei num baú,
e que liberto de mansinho,
enquando te atraco em meu porto.
Seja na cama, na mesa, ou no sofá,
anseio que me encaminhes a alma,
naquele gesto tão doce, tão teu.
E sem te aperceberes, teu corpo cairá,
de uma nuvem sedutora, que te acalma,
junto a um anjo, que te quer mostrar o céu.
Beijas-me. Tocas-me. Possuis-me num nada.
Num tempo onde te perdes na adolescência.
Num espaço onde os filhos não te podem inibir.
Sentes-te Mulher. Amada. Desejada.
Num instinto que te evita a dormência,
e te afasta a mente das tarefas a cumprir.
Perdes-te comigo, nesse poema deserto.
Escrito em dois corpos despidos,
de notas musicais desenhados.
E aquele mesmo tremer, avisa-me que está perto,
soletrando no ofegar dos nossos suspiros,
o fim dessa música a estes seres apaixonados.
Beijas-me. Tocas-me. Sou teu naquele momento.
Rimo-mos. Aprecio teu corpo quente.
E começo a observar-te no olhar,
a antagonia de um sentimento,
que te torna a alma deprimente,
e de ti, num segundo, me começa a afastar.
Ergues-te, sabendo que esta entrega,
trai todas as tuas convicções,
toda a força, do caráter, do teu ser.
Mas oferecer a alma aquele onde ela sossega,
supera a dor de trair os corações,
de quem nada fez por a merecer.
Mas antes de me encaminhares,
por aquela saída indiferente.
Abraças meu corpo uma última vez,
seduzindo-me numa troca de olhares.
Provocando-me num querer, que ausente,
te vai vestindo e escondendo a nudez.
Tu não sabes como evitar esse esconder,
no raiar dos próximos dias.
E no silêncio de um simples gesto,
começas por deixar de me querer ver,
e encontras nas desculpas, as manias,
da dualidade entre o falso e o honesto.
Tornas-te um ser antagónico e atroz,
no passar de umas horas, vazias de liberdade,
mas cheias de memórias de prazer eterno.
Começas por querer calar minha voz,
quando no amanhã te relembro a vontade,
que tinhas, quando meu corpo tomavas como subalterno.
Mas dançando, numa valsa que te conquista,
voltarei a abraçar-te, naquele instante,
que só o espelho é testemunha.
Confidente de uma essência altruísta,
que num interesse inquietante,
faz do segredo a sua alcunha.
Lugar que teu temor enterra,
quando me enlaças em tua pele.
Espelho teu, que será meu dificilmente,
mas que nele, nosso amor encerra.
E mesmo, que não me vejas como aquele,
já o fui, sou-o, porque te escrevo, e assim serei, eternamente.

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