domingo, 24 de junho de 2012

Um cão cego e obediente


Sinto-me um cão cego e obediente,
que segue a sua dona sem hesitar,
esperando constantemente um reconhecer.
Aquele animal que, qual cliente,
existe apenas para a satisfazer,
na falta de alguém para a mimar.

Se a dona manda, o cão obedece,
sem que a trela lhe limite o caminho,
traçado por um desejo inconstante.
Ordem cumprida por quem padece,
ansioso por um acarinhar abundante,
numa pele de um pelo carente e sozinho.

Um cão cego, que começa finalmente a ver,
sinais de que a dona não pretende alterar,
aquela falta de carinho doloroso e inconveniente.
Visão que começa a clarear o escurecer,
de uma vida de cão demasiado paciente,
vivida atrás de um açaime, que o começa a perturbar.

Um cão obediente, que doravante,
anseia por se libertar dessa trela no focinho,
que lhe prende o desejo de que carece.
Beijos, abraços ou um querer aliciante,
que por si suplique como uma prece,
e que o recompense em forma de carinho.

Sinto-me um cão cego e obediente,
disposto a morder-te a mão,
senão te tornares mais consciente.
 

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